Parece complicado aderir uma corrente ideológica
econômica e partidária no Brasil, se na grande maioria percebe-se que a coerência partidária depende de "favores," interesses financeiros e políticos.
Os próprios liberais, em grande parte, não consideram o Brasil um país "capitalista". Revistas de economia mundo a fora, por incrível que pareça, consideram o "capitalismo no Brasil como uma metáfora". O motivo? Para eles o Brasil ainda
possue um "Estado extremamente forte",
através de uma alta carga tributária burocrática (uma das mais altas do mundo), um Estado
assistencialista e que não "valoriza o trabalho", como diria Adam Smith em seu livro "A riqueza das Nações". Para Smith, (considerado por muitos, o pai do liberalismo moderno), um dos
fatores que diferencia uma "nação rica" de uma "nação pobre" é a "valorização do trabalho".
Ainda que, o trabalho possa ser desvalorizado em muitos países desenvolvidos, no Brasil, segundo liberais, os trabalhadores são mais desvalorizados ainda. Um paradoxo, pois grande parte dos próprios empresários incentivam salários mais baixos para os trabalhadores.
Grande parte dos salários baixos, contribuem para os lucros exorbitantes de grandes empresas, estes empregos, sobretudo em
multinacionais, são incentivados pelo próprio Estado brasileiro (que, segundo muitos socialistas, deveria ser forte em pró da sociedade, mesmo que temporariamente), que concede incentivo aos grandes empresários com o dinheiro de impostos dos trabalhadores, em vez de investir em
setores sociais estratégicos do país.
Hora, quer dizer que se eu critiquei as intervenções do Estado brasileiro na economia eu sou capitalista? Não, pois o Estado nacional destina a maioria dos incentivos fiscais e empréstimos (leia-se via
BNDS,
BB, Produzir,
FCO, etc.), aos grandes empresários com o dinheiro dos nossos impostos.
Quer dizer que sou um socialista criticando o capitalismo? Não, pois os incentivos fiscais concedidos pelo Estado Brasileiro, em grande parte, beneficiam os
oligopólios (
Volks,
GM, Ford, etc), cartéis e até monopólios (
Petrobrás na distribuição às
multinacionais, etc.), de grandes empresas, e não a
concorrência como defendia Adam Smith.
Incentivar a
concorrência seria também dar mais crédito aos pequenos e não a maior parte aos "gigantes", que já possuem muito.
Então o Brasil seria social-democrata, pois não seria totalmente socialista ou capitalista? Não, pois, apesar de muitos países terem economicamente a social democracia entrando em "colapso", estes países como a França, Alemanha, Dinamarca e outros, possuem sistemas de saúde, transporte, previdência e outros ainda melhores do que o do Brasil.
Então, se o Brasil não seria totalmente capitalista, socialista ou social-democrata, o que o país é? Uma
bagunça, uma mistura ("salada"), de parte de capitalismo, com socialismo, etc. Um caos sem ideologia fixa ou um "
causlismo".
Em países que possuem um "liberalismo" mais forte as pessoas se enriquecem com o "capitalismo selvagem", sendo o "homem o lobo do homem" (como diria Hobbes, sem querer ser
anacrônico ou paradoxal neste caso).
No Brasil, paradoxalmente, entrar na classe média, ou quem quer se enriquecer, em grande parte, recorre ao Estado, através de cargos comissionados, concursos ou da política. Ou seja, no Brasil é o próprio Estado que gera grande parte da classe média "consumista do capitalismo", o que fomenta mais as diferenças sociais em relação a muitos que trabalham "fora do Estado".
Em uma vertente socialista o Estado seria fomentador da igualdade social, e não o contrário. No Brasil, quem tem curso superior tem cela especial, ricos fazem os melhores cursos superiores nas universidades públicas, as escolas militares formam engenheiros de classe média alta para trabalharem no exterior, tudo as custas dos impostos da sociedade (em grande parte a classe mais baixa), o que faz o próprio Estado ser, aparentemente, um fomentador em grande parte, das disparidades sociais.
".
Muitas vezes não percebemos um Estado mais forte em um
processo para diminuir as desigualdades sociais, como diria alguns pensadores de esquerda, mas um Estado que é utilizado plataforma política para pessoas ganharem dinheiro para participarem do "consumismo
capitalista".
O paradoxo (pode dar um
adjetivo se quiser), de muitos partidários brasileiros é defender o "socialismo" e depois levar seus filhos para
Disney, com o erário público não obtido através de concursos ou democraticamente.
Um colega meu, que hoje faz mestrado em história na
USP, diz que o PC do B (e, por que não, até o
PCB), seria um "Partido dos Comunistas Burgueses".
É óbvio que não podemos generalizar todos partidários, sejam de esquerda, centro ou de direita. Esse próprio colega meu, se intitula de esquerda e, aparenta ser muito coerente em seus princípios. Muitos são fiéis ao que pregam.
Sabemos que há muitos incoerentes, não sabem da realidade de uma periferia brasileira, não dão assistência a nenhum trabalho social, não sabem o que é dificuldade financeira ou social, ficam escondidos em seus carros com bancos de couro, viajam o mundo e parecem pregar as ideologias de esquerda, simplesmente, por uma "vaidade" ou interesses (como foram citados aqui). Talvez, não conseguiram o curso que queriam, agora, querem aparentar "agentes sociais" como se fosse uma "vaidade", em muitos casos, por serem de maior renda, fazem uma espécie de "apartheid social", relacionando, sobretudo, mais com aqueles da mesma condição social que eles, dentro das próprias universidades. Onde está a coerência ideológica nisso?
As ações partidárias dos governos no Brasil, também parece serem paradoxais, o PSDB se diz um partido "liberal" de direita, e, para outros "neoliberal", entretanto deveria começar ser "de direita" pelo nome, que é "Partido da Social Democracia Brasileira", e também, pelas práticas.
Nos governos Fernando Henrique Cardoso, o Estado brasileiro já estava muito presente na vida dos brasileiros através da alta carga tributária (que ainda, é uma das mais altas do mundo). Neste caso, o "laissez faire" capitalista tem o obstáculo das altas taxas de juros, alta carga tributária em efeito "cascata", o Estado interfere em cerca de 40% no lucro das pequenas e micro empresas em cobrança de impostos.
O governo FHC fomentou os gigantes oligopolistas do sistema financeiro através do PROER (ajuda aos bancos), o que teria ofuscado um preceito do liberalismo (que os tucanos tanto pregam), que é a livre concorrência.
As privatizações foram feitas priorizando monopólios regionais (Telefônica em São Paulo, BrasilTelecom (na época) no Centro-sul-norte, "Oi" no Nordeste e ViVo etc), estas empresas tinham direitos exclusivos de explorar os mercados de suas respectivas regiões por cerca de cinco anos, o que fez as tarifas brasileiras estar entre as mais caras do mundo no setor de telecomunicação. Cadê a livre concorrência pregada pelo PSDB?
Mas não são só os partidos que se dizem liberais que aparentam ter incoerências ideológicas. O PT, através do governo Lula, mesmo historicamente tendo criticado os cartéis, oligopólios e monopólios de grandes empresas, tem emprestado centenas de bilhões a grandes empresários nos últimos anos. Em contrapartida, o governo Lula deixou o micro crédito aos pequenos empresários e agricultores ainda na casa dos milhões por um grande tempo. As altas taxas de juros no governo do PT, que na propaganda eleitoral dizia-se "socialista democrático", foram criticadas pelos próprios petistas, como o Aloísio Mercadante.
Fontes: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452002000200002, etc.
http://br.geocities.com/liberdadeeconomica/artigos/capitalismo_e_o_brasil.htm
SMITH, A Riqueza das Nações. Hemus, 3a ed. 2008, 440p
http://www.aloysiobiondi.com.br/spip.php?article968, etc.